Enfrentando um escândalo em que, no último mês, foram descobertas mais de 120 mil toneladas de alimentos estragados importados pelo governo venezuelano, o presidente Hugo Chávez decretou uma nova medida para tentar conter a crise no setor - que pode prejudicar o desempenho dos governistas nas eleições legislativas de setembro.
O decreto proíbe a venda de alimentos pelos ambulantes, sob a alegação de que os produtos são comercializados nas ruas a preços diferentes dos fixados, contribuindo para aumentar a inflação. A medida irritou milhares de venezuelanos que dependem deste tipo de comércio para driblar o atual desabastecimento. O decreto é visto como mais uma tentativa de minimizar o chamado caso "Podreval", que tem chocado a opinião pública
- Os alimentos proibidos de estar na rua são os da cesta básica. Chávez diz que assim a inflação vai baixar. O que ocorre é o contrário: com menos ingredientes, preciso aumentar o preço do menu. Não sei como meu negócio vai sobreviver - reclama Roque Soto, dono de um restaurante japonês em Caracas.
Para o comerciante, assim como para a cientista política Elsa Cardoso, a nova proibição tem como objetivo esconder a "corrupção e o mau gerenciamento do caso dos alimentos podres". As milhares de toneladas vêm sendo encontradas em porões da PDVSA - a estatal de petróleo - que até a semana passada distribuía a comida à rede PDVAL de mercados populares criada por Chávez. Há alguns dias, o presidente transferiu o controle para a Vice-Presidência, o que foi interpretado como mea culpa.
Ontem, o deputado de oposição Ismael García pediu que o ministro das Minas e Energia, Rafael Ramírez, que também preside a PDVSA, seja convocado para se explicar e enfrente uma investigação criminal. Mas a presidente do Congresso e Chávez defenderam o ministro. A menos de três meses das eleições legislativas, Luis Vicente León, da Datanálisis, disse que sua empresa já prepara uma pesquisa de opinião sobre o caso.
- Levando em conta que o país enfrenta uma crise de abastecimento, que importa mais de 70% dos alimentos que consome e que 40% dos gastos mensais dos venezuelanos são com comida, as toneladas de alimentos podres devem ter um grande impacto político - acredita
Fonte: universo jurídico