A indenização pela perda de uma chance deve ocorrer quando a conduta
do ofensor faz com que a vítima perca a oportunidade de obter
determinada vantagem ou, mesmo, de evitar um prejuízo. Essa parcela foi
deferida pela 7ª Turma do TRT de Minas a uma trabalhadora que sustentou
ter pedido demissão do emprego anterior depois de passar por processo de
seleção na empresa reclamada sem, contudo, ter efetivada a contratação.
A Turma constatou que, de fato, a trabalhadora teve frustrada sua
legítima expectativa de contratação, após promessa de emprego por uma
transportadora, em legítima violação ao princípio da boa fé objetiva.
Analisando
as provas, o juiz relator convocado Márcio Toledo Gonçalves apurou que a
efetiva contratação da trabalhadora se frustrou por ato unilateral da
empresa, sem qualquer justificativa aceitável. O magistrado registrou
que a realização do exame médico pressupõe a finalização do processo
seletivo e, sendo constatada a aptidão da trabalhadora, o passo seguinte
seria a contratação. Isso, no seu entender, foi o que motivou o pedido
de desligamento da empresa para a qual ela trabalhava anteriormente.
Lembrando
que a relação de emprego prescinde de formalização, o magistrado
destacou que o fato de a Carteira de Trabalho não ter sido anotada pelo
seu empregador anterior não impede o reconhecimento do contrato de
trabalho prévio, cuja existência não foi negada pela empresa
transportadora. Nesse contexto, o relator concluiu que a empresa
praticou ato ilícito e abusivo ao promover o cancelamento da contratação
da trabalhadora sem motivo justificável após a ocorrência de processo
seletivo, negociações preliminares e até convocação para exame médico,
caracterizando abuso de poder ou tratamento discriminatório.
Ele
registrou que o ato ilícito praticado na fase que antecede à
formalização do contrato de trabalho pode gerar indenização por danos
morais e materiais. E, no caso, considerou que a empresa causou dano a
bem jurídico ligado à moral da trabalhadora, a ponto de reduzir sua
autoestima, bem como interferir no seu estado emocional ou psicológico,
entendendo devidas indenizações de dano material e moral (artigos 422,
427, 186 e 927 do CC). A reparação por danos morais foi fixada em
R$1.000,00.
Em relação aos danos materiais, o magistrado
considerou razoável fixar a indenização tomando como base os parâmetros
traçados na inicial, como pagamento do tempo entre o pedido de demissão
no emprego anterior e a resposta negativa da empresa (11 dias), bem como
o período máximo do contrato de experiência (90) dias, acrescido dos
reflexos em 13º salários, férias com 1/3, FGTS com 40%. Mas, por se
tratar de indenização pela perda de uma chance, o relator ressaltou que
não se deve alcançar toda a vantagem pecuniária que a trabalhadora
obteria, pois o que se está a indenizar não é a vantagem perdida, seja
no emprego anterior ou no almejado, mas a perda da oportunidade de
concretização da contratação esperada, pelo que determinou um redutor de
50%. Assim, determinou a aplicação desse redutor após se quantificar o
montante devido que, na sua ótica, deverá reparar com justiça os danos
sofridos pela trabalhadora quanto à perda da concretização de sua
contratação.
Fonte: TRT/MG